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BEM-ESTAR NA ERA DIGITAL

  • 30/04/2023
  • Instituto Feliciência

O áudio que chega depois do expediente, a notificação de uma mensagem em pleno fim de semana, o e-mail que aparece na madrugada e a reiterada sensação de morar no emprego. Essa é a realidade de muitos brasileiros, independente da modalidade - remota, híbrida ou presencial. Com a escalada de transtornos mentais no País, que é também o segundo maior consumidor de conexão digital do mundo, é necessário perguntar: quais são as práticas das organizações para restringir a conexão digital relacionada ao trabalho?

"Na Europa, o tema ganhou contornos jurídicos. A França foi o primeiro país a garantir ao trabalhador, em 2017, o direito à desconexão digital. Em Portugal a lei que prevê o direito à desconexão digital foi aprovada em 2021. A justificativa é que o aumento dos recursos digitais usados para fins laborais resultou em uma cultura 'sempre online' com impacto negativo na harmonia entre vida profissional e pessoal", explica Carla Furtado, pesquisadora em saúde mental do trabalhador e Diretora do Instituto Feliciência.

O Brasil não possui legislação específica, mas esse é um hot topic entre os profissionais de Gente & Gestão. Com a oferta estruturada de assistência em saúde mental e o amadurecimento do uso de indicadores e pesquisas internas, a tarefa da hora é reduzir estressores desnecessários. "No caso, da hiperconexão digital, há algumas frentes possíveis para um uso positivo e saudável da tecnologia", orienta Carla. A organização deve dar o primeiro passo com o estabelecimento de um protocolo de desconexão digital. Esse tipo de documento ancora o compromisso da empresa com o bem-estar de sua equipe, regulamenta o não envio de comunicações em horário de repouso e define eventuais exceções.

No Tribunal Regional do Trabalho do Mato Grosso (TRT-MT), a temática vem sendo tratada pelo Programa Florescer - Programa de Qualidade de Vida, Bem-Estar e Felicidade da organização. "Em 2022, uma pesquisa mostrou que a conexão digital é um fator que facilita o trabalho. Mas, também oferece desafios, especialmente quando ocorrem contatos fora do expediente", conta Christine Gilli, Coordenadora do Programa. "Cabe destacar que a rápida interrupção para leitura de uma mensagem vinda do trabalho nas horas livres pode provocar prejuízo no repouso e ainda se configurar como estressor, visto que provavelmente será uma demanda", esclarece Carla.

A expectativa de um protocolo é que se converta em comportamentos e, adiante, constitua uma cultura. "O sucesso, nesse caso, está diretamente relacionado ao alinhamento da liderança. As organizações devem iniciar, com seus líderes, um programa de Literacia em Digital Wellness, sobre o uso positivo e saudável das telas. Com sensibilização, educação e mudança pessoal, os gestores serão capazes de acelerar a transformação por toda a companhia", descreve Carla. No TRT-MT, essa é uma das competências previstas no programa de desenvolvimento de 2023.

Vale também lançar mão de nudges - pequenos estímulos que não restringem as escolhas individuais, mas favorecem uma boa tomada de decisão. Estudos científicos têm mostrado resultados positivos com uso de nudges para redução do consumo de telas. "Quando, por exemplo, o sistema sinaliza que uma reunião online está sendo agendada em uma 'sexta-feira sem reuniões' este é o empurrãozinho que muitos precisam para adotar um novo comportamento, isso é um nudge", conclui Carla.



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